Petite Amy, introduction.


Naquele banheiro branco e as paredes sujas de sangue, lembro o dia de sua morte.
Eu ouvia seus gritos e pedidos para que ele parasse, pedidos em vão, ele não parou e se abusava em dizer que tudo aquilo era por ela mesma, eu não
aguentava mais ouvir seus gritos de súplica “Pelo nosso amor, por mim, para”, mas por que ela insista tanto se nada adiantaria naquele momento?
Tudo por nada. Ele só podia ser um psicopata, uma doença que só se curou em mim quando ele foi morto. 

Você imagina por quem?

Por mim.
Eu queria parar tudo aquilo, mas não pude, corri até o banheiro e pedi junto a ela para que parasse, mas ele me afastou e a empurrou, logo caindo e batendo sua cabeça na quina da banheira, assim, dando seu último suspiro e desvanecendo em seus olhos a minha imagem, ali à sua frente. 

Gritei tão alto e forte - mesmo tendo uma voz meiga e alegre, eram o que diziam - mas de que adiantou? Ninguém ouviu.

- mamãe!

Seu sangue escorria tão rápido como quando um raio percorre o céu.
Peguei em sua mão já fria e a beijei. Meu pai que tinha saído voltou ao banheiro, me pegou pelo braço e me levantou depressa, e ordenou que eu fosse para o quarto, caminhei até a porta e fiquei olhando tudo que fazia.

Ele pegou-a no colo e a colou na banheira, abriu as torneiras, foi para a cozinha e voltou com sacos enormes de gelo, talvez tivesse planejado tudo. Quando a banheira já estava cheia, ele desligou e derramou os cubos de gelo na água, tentou limpar alguns vestígios, arrumou uma mala com roupas e as guardou no carro. Depois se aproximou de mim, se ajoelhou e disse:

- Minha filha, foi melhor assim, vai ser muito melhor assim, saiba que eu te amo.

Vi cair lágrimas de seus olhos. Estaria arrependido?
Aquelas malditas lágrimas não faziam sentido naquele momento.
Isso só me fez sentir mais raiva dele...
Ódio seria a palavra correta.

Comentários

Postagens mais visitadas