Au revoir.


“E a voz tão doce que me falava: o mundo pertence a nós. E hoje a noite não tem luar, e eu estou sem ela, já não sei onde procurar, não sei onde ela está” A musica do Renato Russo tocava no mp4 de Natália.
- Você é uma burra, imprestável. Sai agora da quadra. – Disse a Roberta em tom alto e áspero.
A quadra onde estava tendo o treinamento era descoberta, o sol estava quente demais pra ficar exposto, correndo de um lado pra outro.
Natália desceu as escadas da arquibancada onde estava e sentou-se ao lado de Joana.
- Ela te tratou muito mal. Eu não deixaria barato. – Disse ela, olhando pra Roberta e em seguida para Joana.
Roberta era a treinadora de basquete, havia outra, Márcia, mas ela estava de licença. As outras meninas do time gostavam de Roberta, por ela ser pulso firme, só Joana que não. Ela era excelente no basquete, mas desde que Roberta entrou para substituir Márcia, Joana começou a ir mal, por querer e sem querer. Isso era motivo para Roberta pegar no seu pé. Joana a odiava. Ela olhava fixamente para a treinadora do outro lado da quadra, prestava atenção nos berros dela com as outras garotas, e parecia que ela estava ali do seu lado gritando.
Natália continuava falando, e parecia que Joana estava surda, pois não reagia, não comentava, só manteve os olhos em Roberta. Natália então cutucou Joana no braço.
- Ei, estou falando com você.
- Ah, me desculpe. Eu não ouvi nada do que você disse.
- Eu percebi.
- O que você disse? – Joana virou o rosto para ver quem falava com ela.
Elas estudavam na mesma sala, e Joana nunca havia visto, ou se já não lembrava.
- Deixa pra lá. Não era nada demais.
Joana gostou da cara que Natália fez de “que saco” e deu de ombros.
- Não, me diz.
- Era sobre a treinadora.
- Ah, não era mesmo nada demais. Gastou saliva.
Natália achava impressionante como Joana falava sem papas na língua, e era interessante como ela parecia ou não se importava com nada a redor.
Joana se levantou e caminho em direção a porta. Natália foi junto.
- Você esta muito suada.
- Meninas suam. Ou não.
- Depende, meninas suam quando fazem algo que faz suar.
Continuaram caminhando, Joana não disse nada. Aquele silencio até o vestiário estava gritante dentro da cabeça de Natália, então ela tossiu algumas vezes.
- Você não? – Joana olhou pra ela enquanto perguntava.
- Tento não suar, acho nojento.
Joana olhou pra sua camiseta um pouco colada por estar molhada de suor e depois olhou pra Natália.
- Bom, você não esta nojenta. Em mim estaria. – Natália se explicou sem jeito.
Joana continuou em silencio. Seu silencio sem explicação era mais alto que um grito da treinadora de basquete. Ou mais alto do que qualquer outro som, sem explicação pra pequena e pobre Natália. Ela se sentia assim ao lado de Joana.
- Você poderia dizer algo?
- Algo.
- Você não é engraçada.
- Não, eu sei. O que você esta ouvindo?
- Desligando... Renato Russo, gosta?
- Não, é legal?
- Sim, por que eu estaria ouvindo se não fosse? – Natália sorriu como se agora estivesse em empate com Joana.
- Há tantos motivos pra e ouvir algo que não goste.
Ela esta na frente de novo.
Joana entrou no vestiário e tirou a camiseta. E percebeu que Natália estava ali, ainda, como se fosse uma guarda-costas. Ela fez um cara meio parecido como quem faz uma pergunta óbvia. “Que?”
- Você tem um jeito másculo. – Natália riu.
- Tenho? Por que eu tirei a camisa sem vergonha?
- Não, não sei ao certo. – Ela dava curtas risadas.
- O que você quer?
- Eu nada. Por que? – Agora ela estava séria.
- Você apareceu do nada na arquibancada da quadra, me seguiu até aqui e agora esta aí parada me olhando. Então o que você quer? Você não tem nada para fazer ou quer alguma coisa. – Joana estava com raiva agora, a garota da sua sala que nunca havia falado ao menos um oi, estaria forçando uma amizade?
- Eu não apareci do nada na quadra, eu já estava lá, vendo o time jogar. Quando vi que a treinadora te pôs pra fora, fui conversar. Você não me ouviu. E não, não te segui, e não tenho nada pra fazer, achei que te “acompanhar” – ela deu ênfase na palavra -  até aqui não fosse causar incomodo a você. Tchau.
Joana estava franzindo a testa, vendo Natália sair. Primeiro ela a seguiu, falou coisas estranhas, ficou parada olhando para Joana e depois se irritou e foi embora? Ela devia ter problemas também, Joana pensou.
Ela foi tomar uma ducha para ir assistir a próxima aula. Quando voltou pra sala, ela viu que Natália estava lá. Sentou-se e ficou olhando no celular por um momento, depois se virou, esperou que Natália olhasse para ela e a chamou com a mão.
- Fala.
- Desculpa se fui grossa, tive um dia cheio e aquela treinadora complica...
- É, eu vi. Tá tudo bem, não se preocupa. - Natália se virou para voltar pro seu lugar. Joana sentia que estava em falta e pegou no braço de Natália.
- Vai fazer o que depois da aula?
- Ah, eu vou pra casa.
- Vamos comer alguma coisa? Acho que você não tem muitas amigas aqui, eu mesma só te vi hoje.
- Era pra ser engraçado?
- Não, foi mal. Vamos?
- Ta bom!

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